O calendário eleitoral geralmente inicia um ano antes da data prevista para as eleições com as proibições de troca de partidos, filiações, criação de partidos, etc. Nada que nos tome muito a atenção. A janela partidária, período de troca dos políticos entre os partidos sem punições eleitorais, também não chama muito a atenção do noticiário convencional.
A movimentação inicia em junho e julho com o afastamento de secretários e demais funcionários públicos para se engajarem em suas pré-candidaturas. E neste período se anunciam e iniciam suas atividades de forma mais modesta. As propagandas políticas são permitidas somente a partir de meados do mês de agosto. Mas nada os impede de ficar como bonequinhos de posto de combustível sacudindo os braços e abraços nas ruas.
As redes sociais já vão se acumulando de postagens de candidatos e pré-candidatos. Não necessariamente dizendo sobre eleições, mas geralmente com postagens onde se vangloriam de ter feito algo para a cidade, de ter ajudado pessoas, animais, cultura, educação, segurança, etc. etc. e coloquemos muitos “et cetera” pois são tantas realizações anunciadas que penso que a cidade está maravilhosa com o que já fizeram.
De outro lado, tamém criticam tanto a administração que está no poder que o brilho todo acaba e pensamos estar em terra devastada com tantas coisas que devem ser feitas.
Certo é que, além do fator da comunicação via redes sociais, pouco mudou:
Pessoas que somente aparecem a cada quatro anos para se mostrarem como a melhor opção para os problemas da sociedade. Hibernados estavam e agora estão mais ativos que nunca.
Outros apresentam tantos feitos próprios, que nem parece que estavam fora de cargos públicos. Dizem ter realizado tantas coisas, construído tanto e ajudado muito a cidade a ponto de pensarmos que seria melhor continuarem fora da política.
Aqueles que vão procurar a reeleição apontam críticas à situação e desprezam a oposição: ou seja, o básico político. Se mostram temerosos pela perda dos cargos ocupados.
Os que não se podem reeleger (prefeitos de segundo mandato) procuram fazer os apoios para no futuro manterem-se na máquina governamental em cargos chamados de penduricalhos.
Uma classe que admiro muito são os filhos de políticos velhos (geralmente falecidos) que se anunciam com o nome daquele no diminutivo, enfatizam o sobrenome, ou descaradamente usam o nome tal qual o antigo usava, acrescentando a partícula “Jr” (Júnior) à frente. Filhos de peixe...
E por fim, e não menos importante, aparecem os velhos caciques. A velha guarda da política com seus cabelos brancos (quando não estão carecas) os botões de suas camisas fazendo um esforço monumental para segurar para dentro as enormes barrigas. Estas figuras se apoiam na experiência para melhorar uma situação atual, no mais das vezes uma herança de suas gestões anteriores. São os velhacos procurando um último respiro para manterem-se nas tetas que os sustentaram décadas a fio.
A diferença é que agora todos tem pela frente seus celulares com as memórias entupidas de vídeos e fotos para as postagens em todas as redes sociais possíveis e imaginárias. Vídeos de excelente qualidade, outros com menos habilidades fazem suas aparições com sombras, meio corpo, meia cabeça, num show de horrores da estética visual.
Passam a nos seguir em nossas redes sociais, marcam nossos perfis nas suas postagens, e nos convidam a participar de enquetes.
Estão com papeis na mão mostrando projetos apresentados. Atolados até a cintura nas estradas lamacentas prometendo asfaltamento. Cobertos de poeira no meio do mato dizendo que vão abrir novas estradas. Ao lado de cães dizendo-se amantes dos pets. Nas ruas prometendo transporte urbano. Entram em hospitais, repartições públicas, arriscam-se à beira de rodovias movimentadas, e tudo mais. A imagem mais clichê é aquela na montanha com a cidade ao fundo e o candidato anunciando o salvador daquele povo. E assim os locais das filmagens e das fotos são os mais diversificados e até engraçados.
Aquele show de horrores antes visto somente no horário eleitoral agora pode ser gargalhado nas redes sociais a qualquer momento.
Os mais sabidos procuram produtores de conteúdo social e profissionalizam o trabalho e a coisa fica até bem mascarada. Outros pagam um bom professor de oratória e os discursos ficam melhores. Mas nada esconde a vontade de estar na arena pública como protagonista. Ou seria melhor dizer: mamando nas tetas do erário público?
Oremos que nestas eleições possamos contar com novidades, ao menos no visual, dos candidatos. Quanto ao conteúdo, promessas, reformas... sigo pessimista.
Por Ronaldo GalvãoFoto: Espacial FM