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21/12/2023 às 07:46h

Uma briga de bar e seus resultados jurídicos

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João é frequentador assíduo de um bar na sua cidade. Sempre gosta de ir lá ver os jogos de seu time do coração. Todas as vezes convida seus colegas de torcida para ir ao bar onde paga algumas rodadas de tira-gosto para todos. Sempre reúnem num grupo nunca inferior a 15 pessoas. Uma farra e alegria para todos.

Por sua vez José, o dono do bar, gosta muito desta prática, já que sabe ser um lucro garantido quando o time de João vai jogar. O bar sempre cheio, muita bebida vendida e muito movimento na cozinha com os tira-gostos vendidos. Além destes aspectos financeiros a amizade de ambos já dura há vários anos.

Certo dia, numa semifinal do campeonato, João exagerou um pouco na bebida e na forma que estava torcendo: foi para a frente da TV do bar e ficou ali gritando para que o atacante fizesse uma boa jogada para finalizar o jogo e dar a vitória a seu time. Acontece que desta forma ele atrapalhava a visão dos demais frequentadores do bar. José, para colocar ordem na algazarra foi até João e pegando-o pelo braço pediu para que se afastasse da frente da TV ou sentasse com seus demais amigos e torcedores para que os outros clientes vissem o jogo.

João, sentindo-se agredido, deu um soco no peito de José e estabeleceu-se uma confusão quando os dois se empurravam reciprocamente. Alguns clientes e amigos de João foram apartar a briga e a coisa tomou um rumo indesejado: algumas garrafas caíram das mesas e quebraram; clientes e amigos de João aproveitaram a bagunça para sair sem pagar a conta, e a TV foi atingida por um dos dois e caiu no chão quebrando-se. João ficou com alguns vermelhões pelo corpo e José com um corte na mão.

Na final do campeonato João viu o jogo em casa junto apenas de sua esposa e filhos menores. José não teve os lucros de sempre, já que o bar ficou pouco movimentado.

José, revoltado com a situação procura a justiça para se ressarcir dos prejuízos que teve com a TV quebrada que lhe custou mais de R$2.000,00 uma nova. Também pediu danos morais no mesmo valor.

Na audiência cada um tentava colocar a culpa no outro: João dizendo que foi agredido sem motivos por José que alegou que apenas queria colocar ordem no bar e João lhe agrediu.

Os advogados defendiam suas teses de acusação e defesa com muito empenho e o “tempo fechou”! José e João trocaram acusações, falaram palavras de baixo calão um para o outro, e a inimizade ficou estabelecida. Na sentença o juiz negou os danos morais pedidos por José, mas determinou que João lhe pagasse uma nova TV.

Ambos ficaram insatisfeitos com a sentença e com o resultado: João vendo seus jogos em casa ou num outro bar mais distante sem seus antigos amigos; e José, que mesmo com a TV nova, não tinha mais tantos clientes no seu bar nos dias de jogos.

Justiça foi feita! Mas os resultados foram insatisfatórios.

Acontece que noutra cidade, aconteceu um fato exatamente igual: Um bar, um cliente torcedor, um desentendimento, uma briga, uma TV quebrada, um processo judicial.

Mas com um final diferente:

O advogado do dono do bar, mesmo tendo pedido o ressarcimento da TV e danos morais, quando da audiência, preferiu tomar um rumo diferente.

Ele passou a elogiar o cliente! Sim! Ele elogiou o cliente dizendo que o dono do bar “esquentou a cabeça” no dia dos acontecimentos e que queria, na verdade, pedir perdão ao cliente. Disse que a turma de amigos e torcedores que lá iram davam a ele um bom lucro e propiciava um festivo encontro entre o cliente e seus amigos de torcida. Ressaltou que por muitos anos o cliente foi feliz vendo os jogos de seu time naquele bar. Ou seja, o advogado ressaltou muito a ligação de dependência entre o cliente e o dono do bar, tanto financeira, quanto e mais, a amizade de ambos.

Foi assim que a audiência terminou com o cliente assumindo o pagamento de metade da TV e o direito de ganhar uma rodada de tira-gosto toda vez que seu time estivesse na semifinal ou na final do campeonato.

A amizade entre ambos continuou: o dono do bar garantido um excelente movimento no seu estabelecimento que em nada atrapalharia a cortesia de uma ou outra rodada de tira-gosto para manter a clientela. O cliente torcedor garantiu poder estar com amigos nestes momentos de torcida e manter suas boas amizades naquele bar que sempre gostou de ir.

Moral das histórias: nem sempre uma boa sentença, um bom processo pode resolver, de fato uma situação! Às vezes um razoável acordo e reconhecimento do outro pode trazer frutos muito mais importantes.

Fica a dica!

Por: Ronaldo Galvão

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