Final
... continuação.
Por meio do cinema, cheguei à França
Foram cinco prêmios que a montagem do meu primeiro texto teatral titulado “O Chá” ganhou no III Concurso Lique Curta-Teatro, em Itaúna, MG, em 1999: melhor texto, direção, ator, figurino e montagem. “O Chá”, comédia que agradou público e jurados, conta a história de irmãs gêmeas que mantêm uma relação simbiótica, alternando entre amor e ódio, razão e emoção, e foi inspirada nas peripécias e “causos” de duas tias minhas de segundo grau, por parte de mãe, Do Carmo e Terezinha. O espetáculo estreou oficialmente em Pará de Minas no antigo “Automóvel Clube” após sua passagem por Itaúna, com ingressos esgotados nas duas noites de apresentações.
Subitamente, espalharam-se boatos em Itaúna, Belo Horizonte e Pará de Minas, no meio artístico, de que meu texto “O Chá” era um plágio. Os argumentos das falácias se davam por causa da estrutura dos diálogos e da construção psicológica das personagens, considerados muito bem construídos para um iniciante. Foram meses de comentários até que a Sociedade Brasileira de Autores Teatrais – SBAT classificou o texto como original, cessando as acusações. Em seguida, com “O Chá” e um infantil titulado “Tantas Histórias”, ambos pelo Grupo de Teatro Maracutaia, fizemos uma turnê por Minas, interior de São Paulo e Rio de Janeiro e uma temporada na capital mineira.
A
possibilidade de fazer cinema surgiu quando comecei a interagir com a
classe artística de Itaúna. Conheci, por meio da Zanilda Gonçalves,
um artista sonhador, criativo e focado, Guto Aeraphe. Logo nas
primeiras conversas, um embarcou na aventura do fazer artístico do
outro. Almejávamos deixar nossa marca no centro-oeste de Minas com
boas produções cinematográficas. Depois de uma oficina sobre
atuação em cinema, Guto me desafiou a escrever um roteiro e disse
que, caso gostasse, o filmaria. Foi assim que “Memória de um
Barman”/2003, meu primeiro roteiro, foi filmado. Em seguida,
gravamos o curta “Artigo 159”/2005, com texto e direção
assinados por Aeraphe. Agregamos realidade aos nossos sonhos e,
atualmente, na bagagem, temos filmes, documentários, séries e
programas de tevê. “Heróis”/2011, que conta participação do
Brasil na Segunda Guerra Mundial, nos levou a Marselha, França, no
Marseille Web Fest /2012. Em seguida, transformado
em filme,
a produção foi exibida em algumas regiões do Brasil, o que nos
proporcionou viagens e bate-papos. “Heróis” foi um dos primeiros
trabalhos brasileiros exibidos pela Netflix Brasil, em 2013.
Desliguei-me do Grupo Maracutaia em 2008. Passei pelo cargo de Diretor de Cultura de Pará de Minas em duas gestões, 2009 a 2012 e 2017 a 2019. Em 2009, tornei-me membro da Academia de Letras de Pará de Minas. Em 2010, fui agraciado pela Câmara Municipal de Pará de Minas com o honroso Título de Cidadania Honorária Pará-Minense em reconhecimento à minha contribuição à arte e à cultura patafufa.
Após me desligar do Maracutaia, participei de várias produções teatrais, com destaque para as realizadas com a atriz e diretora Cláudia Jordão, em meados de 2012, profissional que me deu trouxe um novo olhar para a área teatral. Comecei a fazer campanhas publicitárias na tevê em Pará de Minas, região, depois no estado de Minas gerais e, em seguida, no Brasil. Vieram também as oficinas de teatro, as direções teatrais com outras companhias. Em 2015, com Carmélia Cândida, Wilsinho da Floresta e Marcilene Tavares, fundei o Grupo de Teatro Reverso. Ainda neste ano, veio o ofício de preparador de elenco para filmes e séries. As conexões com artistas de diversas áreas fizeram diferença na minha trajetória.
Com o teatro, percebi minha facilidade em escrever para um público exigente, o infantojuvenil. Em 2003, eu cursava o penúltimo ano do curso Letras na Faculdade de Pará de Minas e tencionava terminar o curso com um livro publicado. Falei dessa vontade com um professor, Rogério Pereira, que lecionava Literatura, e ele, quando tinha horário vago, me levava à biblioteca, onde nos aprofundávamos em análises literárias. Rogério analisava meus textos e apontava acertos e trechos a serem melhorados. Num desses encontros, leu dois textos meus “As aventuras da Formiguinha Tonhonhõe” e “A Joaninha e a Margarida”, ambos infantojuvenis, e sugeriu que eu tentasse publicar um.
O processo de produção do primeiro livro foi desafiador. Nessa época, eu estava em plena montagem do Museu Histórico e Fono Irmã Rosalina, no Colégio Sagrado Coração de Maria, em Pará de Minas, e comentei com a irmã Joana Bernadete Fonseca Mendes, integrante da instituição, sobre a possível publicação do livro. Em meio ao acervo que estávamos higienizando, ela disse que me emprestaria o valor necessário, porém com uma condição, a de que eu quitasse o empréstimo em seis meses. Ligeiro, calculei mentalmente o quanto eu ganhava e o quanto estava devendo. Não titubeei, embora o valor fosse absurdamente alto para mim. Antes que a razão me dominasse, aceitei a oferta.
“As aventuras da Formiguinha Tonhonhõe”/2003, versão independente, foi lançado no próprio colégio, onde eu lecionava e ainda leciono Artes, e posteriormente em Itaúna. Em 20 dias, aproximadamente, vendi quase os mil exemplares da obra e paguei a dívida. Foi nesse tempo que conheci Marriene Freitas, que me abriu as portas do mercado editorial mineiro. Por sua indicação, fechei meu primeiro contrato com a Mazza Edições. Contabilizo oito livros publicados: “A Joaninha e a Margarida” (Mosaico Negócios Editoriais - 2008), “O Craque/ck” (Penninhas Edições - 2013), “O som das Minas: nas anotações da Malluh” (Mosaico Produção Editorial - 2016), “Um ninho coberto de penas” (Páginas Editora – 2019), “O Servo Fiel: a fascinante biografia de Libério Rodrigues Moreira – o Padre Libério” (Mosaico Produção Editorial – 2019 – 1ª edição e 2ª edição 2023), “Passagem” (Páginas Editora – 2020 – livro virtual) escrito em parceria com a escritora Vanessa Corrêa e “Credo, que delícia!” (Editora Mosaico – 2021). Além de publicações em outros suportes: Jornal Diário de Pará de Minas, portal JCNotícias, sites, blogs, revistas e antologias.
No meu processo de publicação de livros, me aproximei de duas pessoas que me ampliaram horizontes e passaram a contribuir significativamente na lapidação da minha escrita. Primeiramente, Carmélia Cândida, especialmente a partir da terceira publicação e, a partir da quarta, Alaércio Delfino. Meu trabalho literário atingiu outro patamar depois que Carmélia, revisora ortográfica sensível e minuciosa, passou a revisar meus textos. Igualmente importante, nos meus livros biográficos, a pesquisa séria e assertiva do historiador Alaércio fez a diferença e, sem ele, não teria me aventurado nesse gênero complexo e fascinante. Vida longa e fecunda às nossas parcerias.
Nesses 30 anos de carreira artística, ganhei prêmios, conhecimentos, alegrias e amigos. Encontrei pessoas que contribuíram, cada uma à sua maneira, com minha produção artística, como Beatriz Valdez, Maiza Lage, Malluh Praxedes, Iara Tupynambá, Paulo Duarte, Ricardo Pereira, entre outros, além de todos os nomes já citados nesta narrativa. Peço desculpas se me esqueci de alguém. Agradeço imensamente ao público, sem o qual não me firmaria como artista, e à minha família, sempre ao meu lado.
Atualmente me encontro na escrita de um livro biográfico sobre o artista pará-minense Benjamim de Oliveira e na iminência de gravar dois curtas-metragens por meio de projetos contemplados pela Lei Paulo Gustavo. Espero que os próximos 30 anos sejam fecundos, com horizontes alargados e que eu continue caminhando, sonhando, produzindo onde estiver, com quem estiver, com saúde e feliz, de preferência.
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