Foi no dia 17 de dezembro de 1993 que pisei em um palco pela primeira vez
Dito isso, informo que celebrei, no último dia 17 de dezembro, 30 anos de carreira artística. Anteriormente ao que considero minha estreia, quando pisei em um palco pela primeira vez, havia feito teatro em escolas e igrejas, mas participar de uma produção com cobrança de ingresso, meses de ensaios, direção, teste para composição de elenco e escolha de texto, participei pela primeira vez em 1993.
Tudo começou em uma aula de Artes no extinto Colégio Jarbas Passarinho, onde eu cursava o curso de Técnico em Contabilidade, Segundo Grau, quando o saudoso professor Júlio César Pereira, em uma noite do mês de junho, repentinamente, comunicou: “no próximo sábado, uma turma vai se reunir para montar um grupo de teatro. Alguém aqui quer participar? O encontro será na Escola de Artes e Ofícios de Pará Minas”. Meus olhos fitaram-no, intensamente. Não tive coragem de levantar minha mão e pedir mais detalhes. Como era tímido e raramente conversava, achei inapropriado me expor e me colocar à disposição para participar de um projeto artístico coletivo que exigiria desenvoltura. Houve manifestações de agradecimento por parte de alguns alunos, e ele continuou a aula sem que houvesse adesão ao seu convite.
Minha mente inquieta e criativa imaginou, criou e reproduziu a reunião que aconteceria e que tinha como objetivo a formação de um grupo de teatro. Era a primeira possibilidade concreta que o destino me apresentava para realizar um sonho infantil, o de ser ator. Tinha saído de área rural, Jaguara de Minas, com o propósito de trocar a profissão de lavrador pela de artista. O que era um discurso utópico na interpretação de muitos conterrâneos poderia começar a se concretizar. Aquela oportunidade representava eu poder ser uma versão de mim que idealizei inúmeras vezes em meio às plantações.
Não disse uma palavra na reunião. Meus medos me emudeceram, Geovane me apresentou. Após as explicações sobre a composição do grupo teatral e da montagem de uma peça, a reunião findou. Um novo encontro foi marcado para a apresentação de textos teatrais. Percebendo que eu não superaria a timidez, Geovane me disse que, na próxima reunião, eu teria que ir sozinho. Afundei ainda mais dentro de mim.
Subi os poucos degraus da Escola de Arte e Ofícios, trêmulo, sentido o ar rarefeito, para participar do segundo encontro. Quando cheguei, a reunião já estava em curso, acenei para os participantes e me sentei. A diretora teatral e escritora Ana Cláudia SSaldanha, presente à reunião, sugeriu um texto de sua autoria titulado “De Noite eu Conto”. Alguns papéis, se me recordo bem, foram sugeridos por ela a alguns candidatos, certamente por achar o personagem condizente com o tipo físico, voz, desenvoltura, experiência teatral, entre outros fatores relevantes para a composição do elenco.
Num rompante inesperado, pedi para entrar na disputa de um personagem complexo e forte no texto de Ana Cláudia, um lobo, gay, divertido e seguro de si. Éramos três candidatos disputando o papel, os atores Cláudio Henriques, Rogério Fonseca e eu. Durante o teste, entrei em uma espécie de transe, me joguei no chão, dancei, seduzi e cantei, com uma voz que criei para o lobo, uma música das Frenéticas: “Sei que eu sou, bonita e gostosa. E sei que você me olha e me quer...”Finalizei interpretando um recorte do texto do personagem na peça.
Após assistir aos testes, Ana Cláudia disse que precisava pensar no personagem, nos candidatos e que daria o veredito no próximo encontro. Creio eu que ela precisava entender a versão que cada um havia dado ao personagem cômico e ao peso que cada um poderia dar ao espetáculo. Voltei para casa bastante confiante.
A semana foi longa e angustiante. Precisava conseguir me inserir no meio daquela gente da arte, precisava de aprovação devido a algumas provações a que estava sendo submetido na vida pessoal e a acontecimentos que minavam minhas esperanças de permanecer em Pará de Minas. Havia dois anos e meio que eu trabalhava em uma cerâmica, fazendo tijolos, puxando carrinhos cheios deles de 8 a 9 horas por dia, de segunda a sábado. Não era para esse serviço repetitivo e desgastante que eu tinha deixado a lavoura. Sentia-me abatido e descrente, e aquele papel poderia significar o impulso que eu precisava para começar a dar uma guinada na minha vida.
... continua.
Por José Roberto PereiraFoto1: Silvinho Lage. Atores , José Roberto Pereira e Cida Mendes
Foto2: Foto, Silvinho Lage. Atores , José Roberto Pereira e Cláudio Santana
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