Degradada pela ação do tempo e pelo vandalismo, a bela estátua de Santo Antônio localizada na praça e bairro de mesmo nome do santo, de autoria de Raimundo Nogueira de Faria, o Sica, implora por socorro. A escultura faz parte de um conjunto de obras do artista feitas para ocuparem espaços públicos, assim como a estátua de Padre Libério, colocada no bairro Nossa Senhora das Graças, e outras enviadas para outros estados, como uma que está em uma cidade satélite nos arredores de Brasília, DF.
Voltando ao Santo Antônio da praça pará-minense, nota-se que, bem próximo à estátua, foi erguida uma estrutura em madeira, semelhante a um telhado. Ocorre que tal estrutura impossibilita a apreciação, na obra, de traços característicos do trabalho de Sica, além de contribuir para caracterizar ainda mais um cenário de abandono em torno da imagem do santo, embora ela fique rodeada de um grande número pessoas uma ou duas vezes ao ano por ocasião de festividades realizadas na praça.
Terá sido a construção de tal estrutura de madeira próximo à estátua promessa de alguma pessoa? Será que quem a construiu só vai tirá-la de lá, e assim permitir que a imagem do santo possa ser apreciada em sua totalidade pelos fiéis ou admiradores da arte, após ser realizado um determinado casamento? Será? Talvez nunca saberemos.
Do ponto de vista histórico, artístico e religioso, a estátua de Santo Antônio é um importante monumento pará-minense, considerando a rica biografia do Sica. Porém, parece estar condenada a desaparecer caso alguma ação não seja feita. Parte dela está quebrada, assim como as pernas e mãos do Menino Jesus que a compõem, o pescoço do santo sofreu vandalismo, e uma restauração grosseira fica em evidência; sem falar na pintura que a imagem recebeu, pois o artista não pintava suas obras.
Seria o caso de remover essa importante escultura da praça Santo Antônio e realocá-la em um ambiente apropriado? Uma restauração envolvendo a comunidade reacenderia encantos e a consciência de salvaguarda da obra? Reestruturar sua instalação na mesma praça, com novo pedestal, iluminação e remoção da pintura, assim como da estrutura construída no local, trariam um novo olhar para a obra quase cinquentenária?
O Sica e suas obras são memórias do Centro de Artesanato – Salem, mantido pelos franciscanos no final da década de 1970 e início da década de 1980, lugar onde o artista começou a trabalhar, antes de se tonar um renomado professor na Escola Municipal de Artes e Ofícios. O espaço Salem, já extinto, pode ser considerado o berço da arte ceramista pará-minense, bem imaterial desde 19 de agosto de 2010, por meio da Lei Municipal nº 5.064.
A saber: “[...] Raimundo Nogueira de Faria - Sica – 1929 a 1993. Quase imperceptivelmente, numa segunda-feira pela manhã, em 15 de fevereiro de 1993, a luz que banhava nossa cidade, mudou. O mau cheiro do Ribeirão Paciência aos fundos da Escola de Artes enfraqueceu. O murmúrio de suas águas intensificou-se de tal maneira que parecia que uma orquestra tocava em seu leito. E ficou tão intenso que invadiu os porões do prédio antigo da escola e fez o artista que modelava um pedaço de argila parar, definitivamente, suas criações. Resistiu até as 22 horas. Por fim, abandonou a vida para entrar na morte, deixando uma cidade inteira órfã. [...]”.
(Trecho do texto biográfico “Às margens do Paciência”, sobre o artista Raimundo Nogueira de Faria, o Sica, publicado no livro “Pará de Minas, meu amor - 150 anos de histórias e estórias” / 2010.)
Por José Roberto Pereira