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04/04/2023 às 07:48h

Brasileiros recebem prêmio da Nasa por projeto de IA

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Na mitologia grega, Poseidon é o Deus que protege as águas. E foi este o nome escolhido por um grupo de brasileiros para um sistema que pretende utilizar imagens de satélite, inteligência artificial e algoritmos para detectar a existência de manchas causadas por vazamentos de óleo nos oceanos.

A ideia foi uma das vencedoras do Nasa Space Apps Challenge, uma competição internacional que busca ideias inovadoras, a partir de dados produzidos pela agência espacial americana, para resolver desafios tanto espaciais quanto terrestres. A premiação ocorreu em meados de março na sede da Nasa em Washington, capital dos Estados Unidos.

O grupo brasileiro foi formado com o objetivo de participar do concurso. Dois deles já se conheciam de uma competição anterior, realizada pela IBM. Os demais foram recrutados para o projeto. Recém-formados em áreas ligadas a tecnologia e informática, todos já atuavam na iniciativa privada.

Pelo regulamento da competição da Nasa, todo o projeto foi desenvolvido em 48 horas, na data estipulada para o certame, em 2019. Funcionou assim: eles souberam do desafio e, a partir de então, tiveram o prazo estabelecido para apresentarem uma solução.

De acordo com as informações do projeto inscrito no site da Nasa, uma API — sigla em inglês para interface de programação de aplicação — poderia cruzar informações captadas por satélites e, com uso de algoritmos e inteligência artificial, localizar com agilidade os pontos com vazamento de óleo em alto mar.

Segundo o descritivo do projeto, a API "poderia ser consultada por governos e terceiros" e essa detecção serviria para que órgãos competentes sejam capazes de "atuar rapidamente em resposta, minimizando o desastre ambiental e o impacto socioeconômico".

Como funciona
Em entrevista à DW Brasil, o designer, programador e empreendedor Felipe Ribeiro Tanso, um dos membros da equipe vencedora, esclarece o funcionamento do mecanismo.

"Ela possui uma inteligência artificial que checa imagens capturadas via satélite e retorna a probabilidade de haver manchas de óleo em uma determinada região do oceano, alertando os órgãos responsáveis pela fiscalização e mitigação desses acidentes. Dessa forma, o nosso objetivo é diminuir os impactos socioeconômicos e ambientais que tais desastres podem vir afetar a vida de milhões de pessoas", explica.

Como a proposta foi concretizada em forma de API, o sistema pode ser absorvido por outros softwares ou aplicativos, tornando-se facilmente aplicável. "Isso permite com que outras ferramentas possam utiliza nossa solução como algo dentro de seus próprios sistemas", explica Tanso.

O tecnólogo e cientista de dados Ricardo Ramos, outro integrante da equipe, conta que o método desenvolvido por eles se baseia nas chamadas "redes neurais". Mas houve um aprimoramento. "Acrescentamos atalhos para saltar duas ou três camadas [no andamento] para tornar o processo mais rápido", comenta.

Dos cinco envolvidos no grupo desenvolvedor do projeto, apenas três compareceram à premiação. Segundo Tanso, a agenda incluiu dois dias completos na sede da Nasa, "com reconhecimento e a possibilidade de ter o contato mais próximo com cientistas brilhantes e responsáveis por diversas missões relacionadas à exploração espacial, como a missão Artemis, que tem como objetivo levar o homem de volta à Lua".

"Foi incrível", acrescenta ele. "Só o fato de estar em Washington e ser recebido na sede da Nasa foi uma conquista enorme e emocionante. Foi como um sonho de criança sendo realizado. Assuntos espaciais sempre me chamaram a atenção e chegar até lá teve um apelo muito sentimental para mim."

Pandemia e atraso

A equipe vencedora lamenta, contudo, que o sistema ainda não esteja em uso. E, nesse ponto, nem dá para atribuir a não adoção da plataforma pela novidade do desenvolvimento. Afinal, o prêmio da Nasa está reconhecendo um projeto de 2019 — originalmente, os brasileiros seriam condecorados em 2020, mas a pandemia de covid suspendeu o cronograma da época.

"Não conseguimos ainda implementar essa tecnologia em nenhum setor para funcionar de forma real", afirma Tanso. "O nosso objetivo sempre foi ter o apoio governamental para implementar isso como uma solução que pudesse, de alguma forma, ajudar o nosso país, e não apenas servir como um produto privado."

Ele destaca que "uma das coisas brilhantes" dessa iniciativa da agência espacial americana é "justamente a causa social de como podemos impactar e melhorar a vida do homem na Terra ou fora dela". "Então, do meu ponto de vista, empatia é uma das principais características para se construir soluções eficazes e que atendam a grande parte dos desafios", comenta.

"A maior dificuldade para isso na época foi de fato a pandemia, a atenção e o foco acabaram se perdendo, o que impactou não apenas a rotina da equipe como também das empresas e do governo", enumera. "Do ponto de vista técnico, existe também a dificuldade em lidar com grandes dados fornecidos pelas agências espaciais que acabam necessitando de recursos financeiros e tecnológicos mais avançados para lidar, tratar e filtrar essa grande quantidade de dados."

"A pandemia acabou dificultando os planos da viagem", comenta Tanso. "A princípio nossa viagem estava programada para 2020 com o objetivo de acompanhar o lançamento espacial do rover Perseverence, no cabo Canaveral, na Flórida. Com o fechamento dos aeroportos e a saúde em risco, a visita foi adiada até este ano de 2023, com a mudança do cronograma e local para Washington."

Ele conta que, na época, havia apoio de algumas empresas que patrocinariam a viagem, já que a Nasa "não se envolve em nenhuma responsabilidade financeira". "Isso, infelizmente, também acabou sendo prejudicado", relata.

Fonte: G1

Foto: Rádio Espacial FM / Adobe


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