23/05/2023 às 08:06h
Quem passa por debaixo do brasão – obra talhada em pedra pelo mestre Aleijadinho, em 1779, na porta de entrada de um prédio icônico em Minas Gerais –, sabe que o local tem muita história para contar. Lá dentro, no átrio interno, bem ao centro do jardim, a imagem de Nossa Senhora Auxiliadora, também conhecida como “Virgem de Dom Bosco”, recebe os visitantes. Entre a arquitetura diferenciada por corredores de arcos e muito verde, esse lugar de aconchego, abandonado por cerca de 10 anos, terá um novo destino e um novo recomeço: passará a ter, ainda mais, a alma, o estilo e a essência de Portugal em Ouro Preto.
A gigantesca construção às margens da BR-356, em Cachoeira do Campo, distrito de Ouro Preto, desponta na paisagem de montanhas. Quem já visitou as históricas cidades do Circuito do Ouro, certamente, já se perguntou: que seria esse prédio? O local, tombado pelo Patrimônio Histórico e Artístico de Minas Gerais (Iepha-MG), em 2014, foi a sede do primeiro Regimento de Cavalaria da Colônia. Justamente nesse quartel foi onde Joaquim José da Silva Xavier, o Tiradentes, serviu. Ali, de 1897 a 1997, funcionou o Colégio Dom Bosco, mantido pelos padres Salesianos. Lá, também foi onde os imperadores dom Pedro I e II ficaram hospedados, em suas visitas à Minas, no século 19.
Na tarde dessa quinta-feira (18/5) foi oficializada a assinatura entre a prefeitura de Ouro Preto, o governo mineiro e o grupo português Vila Galé para transformar o local no primeiro hotel-charme de campo com a bandeira internacional, em Minas. O investimento será de R$ 80 milhões, gerando 120 empregos permanentes diretos e 600 postos de trabalho indiretos. A edificação será restaurada e fará parte da linha Collection, composta por hotéis boutique, que dão ênfase à exclusividade, à cultura e à arte.
A cerimônia oficial contou com a presença do presidente e fundador da Vila Galé, Jorge Rebelo de Almeida, do secretário de Cultura e Turismo do governo de Minas Gerais, Leônidas Oliveira, dos representantes Salesianos, Deivisson Costa e padre Moacir Scari, do prefeito de Ouro Preto, Angelo Oswaldo, entre outros convidados.
“Estamos muito contentes de ter nosso primeiro hotel nesse Estado tão rico de cultura e história. Vamos fazer o que mais me dá prazer: a conversão de patrimônios históricos, será um resort de campo com muita oferta gastronômica e de recreação, sobretudo para famílias com crianças”, afirma Jorge Rebelo de Almeida.
Sobre a visita à cidade de Ouro Preto, o empresário português Jorge Rebele elogiou e disse se sentir em casa: “Ouro Preto é Portugal. Esta foi a primeira impressão que tive ao visitar a cidade. Me impressionou ver as construções bem preservadas. Não fizeram barbaridades como já vi em outros lugares. Nós temos essa preocupação em preservar, restaurar e manter viva a memória de um lugar. Trabalhar com patrimônio histórico é difícil, é sofrido, mas vale a pena. Eu adoro recuperar o patrimônio e procuramos focar na responsabilidade ambiental e social. Daqui a 10 anos, se um grupo empresarial turístico não se preocupar com isso, ele não receberá visitantes. Ninguém vai frequentar um hotel que não se preocupa com esses valores. Agradeço o convite feito pelo governo de Minas em investir aqui. Nós vamos honrar as tradições de Minas Gerais”.
Inhotim
Além de Ouro Preto, o grupo Vila Galé tem interesse em investir em outra localidade em Minas Gerais. Inicialmente, a ideia seria construir um resort moderno dentro do museu de arte contemporânea, em Inhotim, na cidade de Brumadinho. O presidente do grupo disse estar descontente com a falta de resposta nas tratativas que foram encaminhadas aos diretores da instituição de arte: “Inhotim não manifestou nada até agora. Eles não mostraram interesse e nem deram resposta”, finaliza.
Memória preservada
O novo hotel fica integrado numa gigantesca área de 195 hectares onde serão construídas áreas experimentais de vinhas e olivais, trilhas ecológicas com cascatas, etc. Para o secretário de Estado de Cultura e Turismo de Minas Gerais, Leônidas Oliveira, a vinda da Vila Galé a Ouro Preto vai beneficiar não apenas os moradores da cidade, mas toda a população mineira. “Um empreendimento deste porte, com a segunda principal rede de hotéis de Portugal, vai projetar ainda mais Minas Gerais no país e internacionalmente. A chegada da Vila Galé é extremamente importante para o Estado, porque tende a movimentar a economia da criatividade e toda a rede do turismo que ela sustenta, gerando emprego e renda em todo o território”, declara Leônidas.
"Preservar este lugar, que guarda a memória da Polícia de Minas Gerais, é muito importante para a cultura, turismo e o patrimônio do estado. É um momento histórico para Minas Gerais, Há mais de 40 anos não recebíamos investimento no turismo de um grupo internacional. Será um divisor de águas. Um empreendimento como o Vila Galé é de grande importância para Minas. Acredito que outros grupos turísticos vão se interessa em investir aqui. A cultura transforma o povo. São novos tempos, acredito que teremos a internacionalização turística em Minas Gerais", finaliza o secretário Leônidas Oliveira.
Projeção internacional
Para Angelo Oswaldo, prefeito de Ouro Preto, a oficialização é um momento especial para Ouro Preto e para Minas Gerais. “Tenho certeza que o Vila Galé vai reformar e preservar este prédio como outros já feitos em empreendimentos do grupo no Brasil e em Portugal. Quero agradecer ao Sr. Jorge Rebelo por trazer o hotel para cidade e acredito que vai projetar ainda mais as belezas de Minas Gerais no exterior, Um novo tempo em nosso município”, afirma.
Sobre a possibilidade de construção do aeroporto regional de Confins, em Ouro Preto, Angelo Oswaldo foi enfático: “Não precisamos de aeroporto e nem temos pista com capacidade para receber aviões de grande porte na região. Já desapropriamos e disponibilizamos um terreno que poderia construir uma pista, com cerca de 1.200 metros. Mas o projeto não foi pra frente. Temos que melhorar o acesso à região. A BR-356, conhecida como Rodovia dos Inconfidentes, poderia ter pistas duplicadas e túneis. Essa é uma responsabilidade do governo de Minas Gerais. Ele que tem que fazer”, finaliza.
Estrutura
O empreendimento contará com 182 quartos na primeira etapa e mais 46 na segunda etapa, dois restaurantes, dois bares, lago, sete salas de convenções, um auditório, capela, biblioteca, sala de jogos, Spa Satsanga com piscina interior aquecida, Clube Infantil NEP com parque aquático, entre outros atrativos.
Os hotéis da Vila Galé são temáticos e atrelados à cultura e arte. Esta unidade, em especial, abrigará um Memorial do Colégio Dom Bosco e um Memorial da Polícia Militar, que estavam instaladas neste prédio e anteriormente ao Colégio Dom Bosco. A obra de restauro e ampliação devem iniciar no último trimestre deste ano. A inauguração está prevista para 30 de dezembro de 2024. Quando ficar pronto, o resort e os restaurantes estarão abertos ao público em geral. Não será uma exclusividade do hóspedes.
Preservação de Patrimônio
A ponte entre os Salesianos e a Vila Galé foi pensada pela Invest Minas porque, de um lado, o Colégio Dom Bosco era um patrimônio sem utilização com potencial para se transformar em equipamento turístico. De outro, a Vila Galé possui ampla expertise em restauração. Dos 41 hotéis da rede, oito estão em prédios históricos que foram recuperados.
Fonte: em.com.br
Foto: Rádio Espacial FM
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